quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Picaretas a rodo... Muitas lutas a travar!


Mario Medina*
(originariamente aqui)

Eles perdem o pudor, mas não abrem mão do poder. Me permitam o jogo de palavras. É que essa metáfora contempla muito bem as classes políticas que se revezam no executivo brasileiro. Tanto PT e base aliada quanto seus opositores de direita preferem perder publicamente a dignidade a perder a oportunidade de desfrutar das benesses do poder. Para conquistar presidência e governos estaduais eles são capazes de abstrair de quaisquer escrúpulos.Haja visto a batalha pelo objeto da presidência que toma os noticiários há vários meses. Dilma fez o que estava a seu alcance para não sofrer o impeachment; descolou completamente das bases sociais que a elegeram e se entregou aos achaques peemedebistas, aos desejos indecorosos do mercado financeiro e às negociações de gabinete com sua base golpista. Vejam só, é o partido que levou a vice presidência em sua chapa que agora trama internamente por sua derrubada.

O desejo de subir ainda mais ao poder faz com que PMDB e PSDB conspirem para ganhar a presidência no tapetão, já que não foram capazes de derrotar o PT nas urnas. Se beneficiam da impopularidade de Dilma e do PT para eclipsar sua responsabilidade nos escândalos da Petrobrás e se lançam desesperadamente ao rito do impeachment, com Cunha e tudo. Não importa que Cunha seja um notório picareta, um psicopata energúmeno disposto a passar por cima de quem se opuser a ele. Corre à boca miúda inclusive que Serra já até teria negociado um ministério na eventual gestão de Temer. A crise política promete surpresas em Brasília.

Enquanto isso, só nesse ano, o Brasil vai gastar mais de 380 bilhões de reais no pagamento aos juros da dívida pública. Entra governo e sai governo, revezam-se as figuras do poder, por eleição ou por golpe, e as coisas continuam como sempre. Ao trabalhador brasileiro restou observar com lamúrias incontáveis a política burguesa e suas aberrações. Ou seja, ou Dilma se dobra ao mercado financeiro e aplica o ajuste fiscal e suas austeridades de forma submissa; ou a burguesia levanta a bola para que a subserviente oposição de direita se encarregue da tarefa. O trabalhador pobre que se dane, sem emprego, sem renda, sem moradia, apertado com as tarifas em reajuste e com as necessidades ressurgindo.

Quem será mais cara de pau nessa história, Dilma que se recusa a ajustar os programas sociais com intuito de enxugar gastos e garantir as contas para o sistema, ou Cunha e seus asseclas, que se beneficiam do juízo seletivo e enviesado do judiciário brasileiro para tramar publicamente os ritos de um golpe travestido de medida constitucional legal? Porque a diferença entre tucanos e petistas é que os primeiros são abertamente neoliberais e atraem para si a simpatia da parcela mais reacionária da sociedade; ao passo que o PT, por sua base nos movimentos sociais e sua popularidade na fração mais proletarizada da sociedade, não vem aplicando o ajuste fiscal na velocidade e violência desejadas pelos abutres do sistema financeiro, que desejariam taxas de juros ainda mais elevadas, cortes de direitos trabalhistas, privatizações, etc.

Em tal conjuntura, cabe à esquerda sair às ruas para se opor ao golpe, esse golpismo despudorado que pretende jogar a constituinte na laxa do lixo de nossa história com o intuito de ganhar em jogadas e manobras ilegítimas a conquista do direito de elegermos democraticamente nossos representantes. Na história do direito constitucional, só dois países aplicaram o impeachment. Por motivos legítimos o Brasil foi um dos casos, em 92. Notem que medidas de exceção os poderosos estão dispostos a desengavetar para não saírem contrariados.

Mais do que nunca, no entanto, cabe também à esquerda e às forcas progressistas de nossa sociedade, ao mesmo passo que se articulam para garantir a legalidade democrática, admitirem que esse governo que aí está não representa em nada os anseios populares, que se trata de um governo traidor, que se diz um governo dos trabalhadores mas que é seu oposto, um governo hipócrita, entreguista. Não é que o governo petista seja vacilante. Quem dera esse governo tivesse algum interesse em beneficiar os trabalhadores. O governo de Dilma é um governo perdido, que não vai guinar à esquerda. É um projeto sem salvação.

Alguns economistas governistas criaram o maior alarde com a substituição de Levi por Nelson Barbosa na pasta da fazenda. Mas tão logo assumiu o cargo, Barbosa prontamente se colocou pelo ajuste e tratou de acalmar o mercado.

Digo isso tudo porque estive como observador atento nas manifestações de16 de Dezembro, quando a esquerda, mas sobretudo o PT, ajudado pela CUT e pelo MST, colocaram cem mil pessoas na avenida Paulista para denunciar as tramoias golpistas. Pois bem, ainda que as entidades tenham se colocado pelo Fora Cunha e contra as medidas do ajuste fiscal, muitos manifestantes, petistas empedernidos, verdadeiros religiosos, gritavam ‘’Fica Dilma’’, sem estabelecer críticas, como se as coisas estivessem muito tranqüilas no Brasil, como se o povo pobre estivesse satisfeito com a gestão dilmista.

Ora, não estamos aqui pra ‘’passar o pano’’ pros picaretas do PT. Sabemos que muitos tucano-direitistas se solidarizam com Cunha por interesse no impeachment. Acontece que de nossa parte ninguém vai tirar a responsabilidade de Dilma para se opor ao tucanato. Não adianta fazer tábula rasa da história ou aderir acriticamente a um dos pólos dessa disputa inter-burguesa. Os interesses da classe trabalhadora superam quaisquer birras.

* A opinião aqui publicada não corresponde necessariamente à da maioria da Frente Resistência

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